CRUZ DE SÃO DAMIÃO
(Foi este o Crucifixo e Francisco ouviu
dizer, “Francisco, vai e repara minha casa que, como vês, esta toda destruída”).
O Cristo da
igreja de São Damiao que após a morte de Francisco, foi levada para o convento
das Pobres Damas e somente nos anos 50 do século passado foi apresentado aos
olhos do público na Basílica de Santa Clara.
Foi pintada por um artista italiano desconhecido no século XII num pano
colocado sobre uma madeira de nogueira. Possui
1,90 de altura, 1,20 de largura e 12 cm de espessura.
É uma imagem clássica do Crucificado
Vitorioso ou Cristo Triunfante. Apesar de ser um crucifixo, a imagem
não remete à crucificação. Este é o Cristo glorioso que Santa Clara comtemplou
durante toda sua vida, no Mosteiro de São Damião (1212-1253). Por isso, falará
tantas vezes no “Rei da Glória”.
O crucifixo de São Damião, pertence a uma categoria de imagem, não
simplesmente esculpida pela mão humana, mas portadora de algo diferenciado? A
imagem se identifica à tradição bizantina dos ícones. Pode-se dizer que o que o ícone, não é a
visão do homem sobre as coisas, mas o olhar imaginado por Deus sobre os homens.
O ícone é definido como símbolo ‘econômico’, ou seja, relacional, e não como
entidade imitativa” (Mondazain, 2006, p. 220). Ao fazer emergir o conceito
de ‘economia’, Mondazain evidencia uma
identificação de ícone centrada não na coisa, mas na relação estabelecida entre
o observador, a coisa e o ser transcendente.
A diferença entre a imagem, a coisa, e o ser a que ela se refere, o
protótipo, expressa usualmente utilizada pelos teólogos não parece comprometer
as praticas devocionais.
A imagem religiosa não pode ser pensada somente como representação, pois
implica no reconhecimento de uma força esperada, possível, ainda que não
constante. A presença milagrosa não é, mas pode estar. Personificação em lugar
de presença tem sido a expressão mais feliz empregada.
Francisco de Assis (1182-1226) com esta imagem do Crucificado, teria
se comunicado diretamente com Francisco.
A imagem de Cristo se manifestou a Francisco de Assis quando este
andava pelos arredores da igreja de São Damião, abandonada e quase em ruinas.
Levado pelo Espírito Santo entrou na igreja para rezar e se ajoelhou
devotamente. Tocado por uma sensação que era nova para ele, sentiu-se diferente
do que quando tinha entrado. Pouco depois, coisa inaudita, a imagem do
Crucificado mexeu os lábios e falou com ele. Chamando-o pelo nome, disse: “Francisco, vai e repara minha casa que,
como vês, esta toda destruída”. A
tremer, Francisco espantou-se se não pouco e ficou fora de si como o que ouviu.
Tratou de obedecer e se entregou toda à obra. “Desde essa época, domina-o enorme compaixão
pelo Crucificado, e podemos julgar piedosamente que os estigmas da Paixão desde
então lhe foram gravados”. (2Cel,
6,10-11).
Nela Cristo não está pregado, mas paira sobre a cruz irradiando luz
para todo o ícone. Este emerge do
túmulo, identificado com a cor
preta atrás dele e não se apresentam pregos. Do ferimento da lateral do tronco, jorra o sangue sobre a cabeça de João,
representado bem jovem. De seus pés e mãos também o sangue jorra, mas é a
aspergido a partir de seu corpo.
Observando-se os olhos da
imagem de Jesus que se sobressaem aos moldes dos ícones
bizantinos, estão abertos de simboliza que: Ele olha para o mundo que salvou. Ele vive e é eterno.
A veste de Jesus é
um simples pano sobre o quadril – o que simboliza tanto o Sumo Sacerdote como a
Vítima.
Cristo se destaca do túmulo,
sendo cercado por aqueles que participam do momento da crucificação:
Abaixo do braço direito,
Maria e João; são colocados lado a lado junto à Cruz. O manto de Maria é branco, significando
vitória (Ap.3,5), purificação (Ap. 7,14) e boas obras (Ap. 19,8). As pedras
preciosas no manto dizem respeito às graças do Espirito Santo. O vermelho escuro usado indica intenso
amor, enquanto a veste interna na cor purpúrea lembra a Arca da Aliança (Ex.
26,1-4).
A mão esquerda de Maria está
no rosto, retratando a
aceitação do amor de João, e
sua mão direita aponta para João,
enquanto seus olhos proclamam a aceitação das palavras de Cristo: “Mulher, eis
aí teu filho”(Jo. 19,26).
O sangue coteja em João
neste momento. O manto de João é cor de
rosa que indica sabedoria eterna, enquanto sua túnica é branca – pureza.
Sua posição é entre Jesus e Maria, o discípulo amado por ambos. Ele está
olhando para Maria, aceitando as palavras de Jesus: “Eis aí tua Mãe” (Jo.
19,27).
Em tamanho menor, está um dos soldados
romanos, o que feriu Cristo com a lança.
Do lado direito da Cruz Maria
Madalena, que era considerada por Jesus de uma forma muito especial,
está junto à cruz. Sua mão está no queixo, indicando um segredo “Ele
ressuscitou”. Sua veste tem cor
escarlate, que simboliza amor, e seu manto azul intensifica este símbolo. Maria de Cléofas usa veste castanho
símbolo de humildade, e seu manto verde claro (esperança). Sua admiração
por Jesus é demonstrada no gesto de suas mãos.
O centurião segura,
na sua mão esquerda, um pedaço de madeira representado sua participação na
construção da sinagoga (Lc. 7,1-10). A criança
ao lado é o seu filho curado por Jesus. As três cabeças atrás do menino mostram: “e creu, tanto ele,
como toda a sua casa”(Jo, 19,28-30). Têm
três dedos estendidos, símbolo da Trindade, e os outros dois fechados,
simbolizam o mistério das suas naturezas de Jesus Cristo (divina e humana).
“Este homem era verdadeiramente o filho de Deus “(Jo. 19,28-30).
Vemos ainda outro personagem,
paralelo e no mesmo tamanho do soldado com a lança. Não se trata, no
entanto, de outro soldado, levando em conta a diferença de vestimentas, mas
simples e escura.
Abaixo de cada uma das mãos estão dois
grupos de anjos em atitude de conversão;
discutem as cenas que se desenrolam
diante deles. “Com efeito, de
tal modo Deus amou o mundo, que
lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna”. (Jo. 3,16).
Os vermelhos simboliza o amor que supera o escuro da morte.
Na frentes de cada uma das
mãos estão duas figuras santificadas, não aladas que também ainda não
reconhecemos.
Junto à perna de Cristo, ao lado, a figura do galo, animal emblema de Cristo (assim como a águia e o cordeiro),
símbolo solar indicando a luz e a ressurreição. Outra possibilidade seria a
referencia à negação de Pedro profetizada por Cristo que depois chorou
amargamente: “Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo, antes de me
teres negado três vezes”! (Jo. 13,38). O galo igualmente proclama novo
despertar do Cristo Ressuscitado. Ele que é a verdadeira Luz (1Jo. 2,8).
Na parte de baixo da Cruz
embaixo dos pés de Jesus existem seis santos desconhecidos que
estudiosos afirmam ser Damião,
Rufino, Miguel, João Batista, Pedro e Paulo, todos patronos de igrejas
das vizinhanças de Assis.
São Damião era patrono da igreja que alojou a cruz de São Rufino e
patrono de Assis.
Acima da imagem do corpo de Cristo, o Cristo Ressuscitado ele próprio é recepcionado nos céus pelos
anjos que o guardam, distribuídos harmoniosamente. Cristo sai do circulo da
vida no mundo e alcança o espaço celestial, trazendo à mão a cruz em forma de
cetro símbolo da realiza. Acima a mão
de Deus Pai, imagem comum para representar a primeira pessoa da
Trindade, em semicírculo que o destaca dos outros seres celestes.
A cor de sua vestimenta é
dourada, símbolo da majestade e vitória. A estola vermelha é um sinal de sua autoridade suprema exercida no
amor. Os anjos acima lhe dão boas
vindas ao Reino dos Céus.
INS são as três primeiras
letras do nome de Jesus em grego. NAZARÉ
é o Nazareno.
De dentro do semicírculo, na extremidade mais alta da cruz, está Deus Pai, se revela numa benção. Esta
benção é dada pela mão direita de Deus, com o dedo estendido.
Em torno da cruz há ornamentos
caligráficos que podem significar a videira mística, “Eu sou a videira,
vós os ramos...” (Jo 15,5). Na base da cruz há algo que parece ser uma pedra – símbolo da Igreja. As conchas do mar são símbolos da eternidade,
que nos é revelada.
REFERENCIAS:
MONDAZAIN, Marie-José. Immginem,
icona,economia – Le origini bizantine dellímmaginario contemporâneo.
Milano: Jaca Book, 2006.
SIGLAS:
2Cel – VidaII, de Tomás de Celano.