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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SIMBOLOGIA DA CORES NA ICONOGRAFIA



A luz penetra na superfície da pintura passando através das partículas de pigmentos que possui diferentes tamanhos. Essas partículas não absorvem muita luz, mas possuem um índice de refração maior do que do meio que as rodeiam. Desta forma a luz é refratada para fora da pintura.
Nos pigmentos coloridos a opacidade da camada de pintura dependerá da absorção da luz e da capacidade de espalhá-la que dependera do índice de refração e da distribuição e dos tamanhos das partículas.
Nos pigmentos naturais este efeito será de um brilho maior na pintura, porque eles possuem uma diversidade de tamanho das partículas muito maior do que os pigmentos artificiais. Outro fator que afeta o brilho da pintura é a base na qual será executado.
A opacidade de uma pintura é influenciada pelos índices de refração dos pigmentos do solvente pelos tamanhos das partículas e da proporção de pigmentos e a espessura aplicada.
A cor segundo a óptica é o resultado da decomposição da Luz, e segundo a espiritualidade na iconografia utiliza a Luz Tabórica[1] irradiando assim a cena retratada tendo um papel importantíssimo.
O iconógrafo tem uma liberdade limitada para escolher as cores, devendo ser fiel aos cânones estabelecidos e à sua tradição.
            Os imperadores bizantinos o púrpura era símbolo da realeza e o azul do céu é a cor de tudo o que vem do mundo espiritual. O Cristo se fez homem, sua vestimenta interna é púrpura, mas é revestida do divino que é azul por fora. Enquanto na Virgem Maria ela era humana abrigou dentro de si o divino. Assim o azul esta no interior e o púrpura por fora.
            As Madonas toda de azuis tão belas e formosas que vemos desde a Renascença é porque houve uma perda do simbolismo.
Quando observamos ícones que infelizmente alguns restauradores alteraram as cores originais de alguns ícones antigos por isso encontramos algumas Virgens antigas de azul.

                LUZES MONOGRAMÁTICAS: São os tons mais claros que observamos no ícone. É um clareamento gradativo do tom base que chega até próximo do branco.

                LUZES POLICROMÁTICAS: São luzes de tons diferentes do tom base

a.      Vermelho, utilizado para referir-se ao sangue e ao fogo respectivamente símbolo do martírio/sacrifício e a manifestação do Espírito Santo.
O vermelho e o branco traduzem o Amor e a Sabedoria de Deus encontrado no Cristo após a Ressurreição e a segunda vinda de Cristo.
O vermelho é uma das cores mais usadas nos ícones. É a cor do calor paixão, amor e da energia doadora de vida por isso tornou-se o símbolo da ressurreição – da vitória sobre a morte. Ao mesmo tempo é a cor da tormenta do sangue, do martírio, do sacrifício de Cristo. Os mártires costumam ser representados com vestes vermelhas.
Alguns ícones, sobretudo nos russos entre os séculos XIV e XVI possuem como símbolo da celebração eterna da vida.

b.      Púrpura, exprime a idéia de riqueza devido ao alto custo. A idéia de riqueza mistura-se com elementos religiosos. Os sacerdotes e reis vestiam-se de vestes cor púrpura simbolizando a cor da mais alta dignidade. Em Bizâncio, a cor era de uso exclusivo dos imperadores. A cor do manto Theotokos na iconografia, raramente se usa a tonalidade púrpura pura, sendo uma cor que se aproxima do vermelho ficando assim mais luminosa.

c.       Azul, na cosmologia, o Deus Criador é cor azul. Cristo nos seus três anos de ministério de sabedoria e verdade é representado com o manto (himaton) azul. De azul Ele inicia os homens nas verdades da vida eterna. O azul é símbolo do caminho de fé. O azul é o infinito do céu e o símbolo de outro mundo. O azul escuro é a cor da túnica de Nossa Senhora.

d.      Verde, para o Cristianismo o verde é o símbolo da regeneração da consciência. Desta forma o azul da Virgem e do Cristo é muitas vezes substituído pelo verde. São João Batista, simbolizando sua qualidade de apóstolo da caridade e realização espiritual e da nova vida que anuncia através do batismo. É a cor dos profetas. Na Bíblia se diz que de Deus emanaram três esferas concêntricas (Ezequiel, 1:26; Êxodo, 24:9-10: uma vermelha (do amor), uma azul da (sabedoria) e outra verde (criação).
Também simboliza a juventude. Na infância, Jesus é muitas vezes representado de verde como símbolo da esperança de regeneração da humanidade, de uma nova vida. Muitas vezes Maria nas cenas da anunciação e do nascimento de Cristo pode usar o verde ao invés de azul como símbolo da nova vida que inicia. Na Sagrada Escritura o verde é usado como  um atributo da natureza, exprimindo a vida da vegetação simbolizando também o crescimento e a fertilidade. Para o Aeropagita, o verde é a juventude e a vitalidade.

e.      O ouro, o amarelo e o sol simbolizam a união da alma a Deus, a luz revelada aos profanos. Simbolizam os graus da revelação.
O ouro é um metal substância que não faz parte da pintura sendo difícil harmonizar com o sistema de cores do ícone. As cores expressam-se como a luz refletida, o ouro é a própria luz e genuína.
Segundo Florensky a pintura e o ouro pertencem a esferas diferentes de existência sendo esta a diferença que o iconografo faz uso.

a)      As linhas de ouro (assist) aplicada às vestes não correspondem a quaisquer linha visível como pregas ou no caso de tronos, às diferenças de planos elas representam o sistema de linhas potencias da estrutura energética do objeto, semelhante às linhas de força de um campo magnético. Desta forma elas não podem ser aplicadas a todos os objetos representados no ícone. São em numero limitado e, na maior parte dos casos aplicados às vestes do Salvador. O ouro em um ícone representa a luz divina.

f.        Preto se opõe ao branco, desta forma como as trevas se opõem à luz, o mal ao bem, a noite se opõe ao dia. Mas o preto também é o símbolo da luta contra o mal. Em pinturas da idade Média Jesus é representado de preto quando luta contra o demônio, nas tentações do deserto. As vestes dos monges o preto é símbolo da mais alta ascese da sua morte para este mundo material.
O inferno no ícone da ressurreição é preto, a tumba de onde Lázaro é ressuscitado e a gruta embaixo da cruz de Cristo, como a caveira é símbolo da entrada da morte pelo pecado, da qual Cristo nos livra.
Na caverna da natividade de Cristo é preta assim nos recorda que o Cristo aparece para iluminar com cores a aqueles que estão nas trevas e na sombra da morte, e dirigir nossos passos pelo caminho da paz. (Lucas 1, 19). No entanto o preto também significa que o menino Jesus, como todos os homens passará pela morte para nos doar a vida eterna. O preto na iconografia nunca é usado puro, mas sempre misturado com algum pigmento.

g.      Branco, é a união de todas as cores é símbolo da própria Luz e da Vida que vence a morte. É a cor da túnica de Cristo no ícone da Transfiguração e da descida ao Hades: é a faixa que envolve o menino Jesus no ícone da Natividade e Lazaro, no ícone da ressurreição; é o lenço que cobre a nudez de Cristo, no ícone da Crucifixão e em alguns ícones do Batismo de Cristo. No ícone da Dormitação branco é a veste de Maria acolhida como pequena criatura nos braços de Cristo
O branco é a cor de quem está penetrado pela luz de Deus. É a cor da inocência porque para aqueles que se converte, Deus promete que os seus pecados tornarão brancos como a neve (Is. 1,10) por isto o branco é usado nas grandes festas litúrgicas para exprimir a alegria.

h.      Violeta, é a mistura de azul e o vermelho, símbolo do luto. Se pensarmos que o vermelho é o símbolo do fogo espiritual, do amor divino e o azul é símbolo da verdade eterna, o violeta será símbolo da ressurreição eterna. Durante a semana santa, a cor da igreja é o violeta para simbolizar não somente o luto pela morte do Cristo, mas também a preparação para a sua ressurreição.

i.        Marrom, é a composição do vermelho, azul e verde e contém o preto. Quando comparamos o marrom com o preto ele é uma cor viva, mas ao compararmos com as outras cores o marrom mostra-se uma cor morta. É o reflexo da densidade da matéria, falta o dinamismo e a irradiação das outras cores. Assim encontramos o marrom em tudo que é terreno. Também é símbolo da humildade. Nos monges e ascetas, é símbolo da renuncia as alegrias da vida terrena e da pobreza.
O marrom também é usado em combinação com o tom púrpura nas vestes da Theotokos para nos lembrar de sua natureza humana, mortal.  
          



[1] Luz que emana da presença na figura retratada.

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